Natal
Celia Passos
O que mais me lembro da infância é o Natal. Tenho várias lembranças queridas dessa época do ano. Eu esperava a chegada do Natal durante o ano inteiro, ou melhor, desde o dia seguinte ao Natal eu já ficava esperando o próximo. Para mim, nenhuma festa tinha a beleza do Natal.
Nossa família sempre foi muito unida. Era usual sairmos em busca da árvore de Natal em meados de novembro, nos arredores ou na Floresta da Tijuca, que eu considerava o jardim da minha casa. Escolhíamos um lindo galho seco, dentre os que encontrávamos caídos, para montarmos a nossa árvore natalina. Minha mãe ajudava na escolha, preparava uma caixa cheia de pedras para servir de base para a árvore não cair e forrava a caixa com feltro vermelho. Cobríamos o galho com algodão, colocávamos as bolinhas e as lâmpadas. Sempre trabalhávamos em equipe. Eu não podia pegar nas bolinhas. Eram de vidro fininho e eu poderia me cortar, então, essa era a função dos mais velhos. Eu enrolava o algodão no galho seco e, do nada, em pouco tempo tínhamos uma árvore coberta de neve!
Parece que, quando acendíamos a luz, o mundo ao redor se transformava. As luzes e cores mudavam o cenário. As cores refletiam no espelho que ficava atrás da árvore, tornando-a imensa e muito mais colorida. Cada trecho a sua vez, piscando em sequência, dava um certo movimento, sem que nada saísse do lugar...
Minha mãe costumava fazer um bolo natalino que tinha frutas secas e possuía várias camadas saborosas. Ela recheava com um delicioso doce de ameixas pretas. A cobertura era toda branquinha e, em cima, o Feliz Natal escrito com passas. O bolo da minha mãe era lindo, parecia um grande bloco de neve, salpicado de pequenas frutas vermelhas!
Nas proximidades do Natal, as pessoas me pareciam mais atenciosas, gentis umas com as outras, e as noites mais alegres, mais coloridas e vibrantes. Antes mesmo de entrar o mês de dezembro, quando montávamos a árvore de Natal, eu percebia que algo mudava, que tinha algo diferente no ar.
Uma vez um vizinho contou que gostava de ficar sentado em sua varanda, à noite, observando a nossa árvore e a nossa casa. Ele nos olhava no jardim de inverno conversando e brincando e achava a nossa árvore linda! Para ele, nossa casa era vibrante! Eu gostei de saber que nossa árvore era apreciada. Nossas cores, luzes e vibrações alcançavam outras casas e nossa alegria influenciava outros espaços. Parecia que todos éramos uma grande família, todos se importavam com os outros, havia atenção e cuidado mútuos, vivíamos em fraternidade...
Havia, de fato, algo no ar nessa época do ano. Os mais velhos me diziam que era o espírito do Natal.Eu não entendia muito bem, mas sentia. Eu adorava esse “espírito do Natal” e esperava por ele o ano todo.
Hoje busco trazer esse espírito do Natal para cada dia do ano e viver consciente de que somos uma grande família humana. Acredito que estamos fortemente conectados a tudo o que existe no universo, sejam as flores, os pássaros, os peixes e as estrelas.
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