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Utilizando o Modelo Circular Narrativo para Melhorias no Clima Organizacional

Caio era gestor de uma equipe com 180 pessoas e, como ocorria anualmente, recebeu o resultado da Pesquisa de Clima Organizacional realizada pela empresa onde trabalhava para identificação de oportunidades de melhorias e estabelecimento de Plano de Ação para seu tratamento.


Historicamente, os planos de ação eram estruturados pelos próprios gestores com apoio de representantes das equipes. Contudo, nas últimas pesquisas apresentadas, a comunicação entre os gestores e a equipe era um ponto que denotava carecer de melhorias e, como as ações anteriormente implementadas não haviam sido suficientes para gerar melhoria neste indicador específico, a adoção de uma estratégia diferenciada fazia-se necessária.


Ademais, indicadores relacionados à meritocracia e ao reconhecimento das pessoas também demonstravam que os colaboradores tinham necessidades que precisavam ser mais entendidas e estudadas, de forma que todos pudessem sentir-se ouvidos e atendidos, otimizando não só o clima organizacional como os resultados da empresa.


Caio sabia que um dos maiores desafios do trabalho com equipes numerosas está em conseguir permanecer acessível e ouvir todas as pessoas de modo a alinhar, ao máximo, as posições, necessidades e interesses delas com as da empresa. Mas como ouvir 180 pessoas e estruturar um plano de ação que atendesse a elas num curto espaço de tempo, de forma a atender também aos anseios da própria empresa?


Caio, estudioso de Mediação, lembrou-se que durante sua formação havia tido contato com três modelos clássicos: Mediação para Acordos, modelo negocial baseado em técnicas e pressupostos teóricos que consideram a interação entre as pessoas na sua própria construção assim como nos eventos de que participam; Mediação Transformativa, de Bush & Folger, que, utilizado principalmente nas relações que se prolongam no tempo, propõe-se a, além de um acordo que traga soluções para conflito posto, haja transformações qualitativas da relação entre as pessoas envolvidas; Modelo Circular Narrativo, de Sara Cobb, que: utiliza a reflexão como pano de fundo para um pensar sistêmico; considera a descrição da realidade como uma construção individual de cada pessoa envolvida; entende os indivíduos como uma síntese de sua interação com o meio em que se inserem; consideram as questões narradas como expressões de leituras pessoais dos fatos; e consideram que, ao falar, a pessoa o faz por si, mas também como representante da rede social à qual pertence, trazendo em sua fala múltiplos discursos.


Imediatamente, Caio lembrou-se de ter participado de uma simulação do Modelo Circular Narrativo em que às pessoas, organizadas em círculo, era proposta uma questão para reflexão por vez e cada um dos integrantes do círculo, sucessivamente, apresentavam suas ponderações. Visando garantir a participação de todos os integrantes e o equilíbrio no tempo de fala entre eles, havia um objeto utilizado como “instrumento de fala” que circulava sempre a diante e destacava de quem era o momento de expressão.


Adaptando a experiência vivida ao trabalho que precisava fazer, Caio dividiu sua equipe em quatro grupos e com base nos pontos a serem trabalhados por meio do plano de ação formulou perguntas reflexivas a serem respondidas pelos grupos. Mas como consolidar tantas informações que viriam por meio das falas de 180 pessoas a serem ouvidas?



Nesse momento, Caio ligou para a equipe que tratava da tabulação de dados estatísticos da empresa que prontamente o apoiou, apresentando formas de estruturação das informações que poderiam vir. Sendo assim, o próximo passo era mobilizar a equipe para as reuniões.


A equipe ficou surpresa ao saber que todos seriam ouvidos, mas iniciou-se um burburinho positivo, e ao mesmo tempo desconfiado, acerca das reuniões. Caio, entretanto, estava certo de que, se outros resultados faziam-se necessários, a utilização de uma nova metodologia poderia contribuir para que se encontrassem soluções ainda não vislumbradas e que poderiam melhorar o clima organizacional.

Caio iniciou as reuniões esclarecendo que, para a construção do Plano de Ação para melhoria do clima organizacional, havia optado por contar com a colaboração de toda a equipe e que, para tanto, utilizaria o Modelo Circular Narrativo adaptado ao tempo e às possibilidades da empresa.


Por conseguinte, cada ponto a ser tratado no plano fora transformado em questões para reflexões que seriam apresentadas, uma a uma, ao grupo organizado em meio círculo. Que dispensaria o instrumento de fala, mas seria respeitado o tempo de cada um para se expressar acerca da questão apenas uma vez e sucessivamente. Também foram oferecidas às pessoas as possibilidades de nada comentar, e de apenas concordar com algo que já havia sido dito por algum outro participante que se manifestara anteriormente, deixando claro que o que se buscava era a livre expressão do que cada pessoa pensava acerca do ponto trazido e de que maneira poderíamos melhorar os pontos trazidos.


Ademais, fora esclarecido aos participantes que o produto consolidado a partir das escutas seria tabulado com apoio da equipe especializada que estava presente, e que seria enviado à caixa de e-mail da cada um dos colaboradores juntamente como uma primeira proposta de plano de ação. Em seguida, estaria aberto prazo para que todos apresentassem seus comentários e sugestões para nossos ajustes e, uma vez encerrada essa fase, consoante cronograma demonstrado, fecharíamos o plano de ação que seria apresentado e explicado a todos presencialmente. Além disso, seria feito acompanhamento mensal, momento em que seguiríamos avaliando o que estava funcionando ou não pois, afinal, o que mais desejávamos era melhorar o clima organizacional e, se necessário, corrigir trajetória nas hipóteses que não estivessem atendendo ao esperado.


Caio percebeu que o Modelo Circular Narrativo customizado de acordo com as características e possibilidades do ambiente corporativo mostrou-se muito eficaz para a estruturação do plano de ação para melhoria organizacional e, além disso, fortaleceu os vínculos entre os integrantes da equipe em todos os níveis e destes com a empresa, agregando credibilidade ao trabalho desenvolvido e resgatando o sentimento de pertencimento que estava enfraquecido por parte de alguns colaboradores.


O resultado da nova Pesquisa de Clima Organizacional ainda não saiu. E, neste momento, Caio tem apenas a certeza de que mais pessoas precisam conhecer a Mediação em suas diversas formas! Caio seguirá Mediando por aí!


*Maristella Melo é advogada especialista em Direito Securitário e Direito Privado Patrimonial, mediadora e superintendente jurídico da Seguradora Líder DPVAT. Com atuação dedicada ao Seguro DPVAT desde 1999, recebeu menção honrosa no X Prêmio Innovare pela Política de Conciliação DPVAT. É membro da Comissão de Assuntos Jurídicos da CNSEG, da AIDA e da Comissão de Conciliação e Mediação da OABRJ.

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