“ Indico a Mediação para o Mundo! ”
Débora era uma cliente antiga do escritório de advocacia da minha família.
Prestávamos serviços advocatícios para a construtora de seu pai e acabamos nos tornando assessores jurídicos de todos daquela família, inclusive em assuntos de ordem pessoal, e a mim coube cuidar dos assuntos da Débora.
Em nossos encontros, por vezes acabávamos falando de sua vida pessoal, do seu relacionamento com seu agora marido, Guilherme, dentre outros assuntos.
Desde a época de namoro, me recordo da Débora fazendo algumas reclamações acerca do gênio e da personalidade forte de Guilherme e da diferença cultural e social que possuíam.
Como advogada antiga da família, já conhecia o Guilherme e o filho deles, Jonas.
De fato, Guilherme possuía uma personalidade bem marcante, um humor levemente ácido, era mais rude no trato com as pessoas e se podia perceber que o relacionamento dos dois parecia ser conturbado.
Até que num certo dia, Débora me procurou para obter orientações pois estava decidida a se separar e tinha muitas preocupações com relação à reação de Guilherme, já que o mesmo sempre foi muito explosivo com ela.
Nessa época eu já era Mediadora, além de advogada. E foi quando sugeri que essa questão e todos os demais assuntos relacionados fossem resolvidos em um procedimento de Mediação.
Neste caso específico eu não poderia ser a Mediadora do caso, já que além de advogada da Débora, acabei desenvolvendo uma relação de amizade com a mesma e, portanto, não seria imparcial quanto aos envolvidos e quanto ao caso, podendo vir a ser tendenciosa na condução do procedimento de Mediação, mas me coloquei à disposição para indicar Mediadores qualificados.
Ocorre que Débora recusou totalmente a Mediação, em especial por acreditar que com o Guilherme, em razão de seu gênio forte, não existia espaço para o diálogo e que somente a decisão de um Juiz seria acatada por ele.
E assim ela fez; contratou um renomado advogado da área de família e ajuizou as ações judiciais cabíveis para a solução das questões relacionadas ao término de seu relacionamento com Guilherme e as relativas ao filho do ex-casal, o menor Jonas.
Acontece que, o que parecia ser o início da resolução das questões que envolviam aquele ex-casal e seu filho, na verdade foi o início do caos que se instaurou na vida de Débora, Guilherme e do pequeno Jonas, naquela época com apenas 2 anos de idade.
O fato foi que Guilherme se sentiu extremamente traído por Débora com a distribuição de um processo judicial, ao invés de procurá-lo para conversar e tentar resolver as coisas de forma amigável.
E ainda se sentiu ofendido com aquelas palavras fortes, rebuscadas, caprichadas no “jurisdiquês“ das petições iniciais daquele renomado advogado da área de família.
Afinal de contas, advogado bom é aquele que é bom de briga.
Mas será mesmo?
A experiência desse caso nos mostrou que não.
A partir daí começou um verdadeiro inferno na vida dos três. Primeiro acabou a comunicação entre os adultos, depois começou uma fase de brigas seguidas de brigas, um falando mal do outro para a criança e o início de um festival de distribuição de processos judiciais, de todas as matérias e assuntos que se possa imaginar, ao ponto de nem mais saber a quantidade de ações que possuíam.
E eu comecei a perceber que a Débora estava adoecendo, Jonas desenvolvendo alguns sinais que chamavam atenção e Guilherme, apesar de nunca mais tê-lo visto, pelo o que ouvia da Débora, parecia estar adoecendo também.
Ver aquelas pessoas mergulhadas nessa situação, onde ninguém mais estava sendo feliz, eles estavam apenas sobrevivendo, um dia após o outro, um pagamento de honorários advocatícios e de custas judiciais atrás do outro, era de causar tremenda tristeza.
Mas até eu, uma Mediadora apaixonada pela Mediação e convicta de que a Mediação é especialmente indicada para estes casos de família, para relações que perduram no tempo, não acreditava mais ter espaço para um procedimento de Mediação no cenário que estava instaurado.
Até que um dia, o Juiz de uma das tantas ações que o ex-casal possuía entendeu que se tratava de um caso passível de Mediação e encaminhou o processo ( um dos tantos que aquele ex-casal possuía) para o setor de Mediação do Tribunal de Justiça aqui da Capital do Rio de Janeiro.
E o procedimento de Mediação se iniciou. Foram algumas sessões individuais com cada um dos Mediandos, num primeiro momento em que não havia possibilidade de os dois sentarem juntos, frente a frente, numa mesma mesa, até o momento de serem realizadas outras tantas sessões conjuntas, nas quais eles tiveram a oportunidade de falar um para o outro, de forma respeitosa, quais eram as suas mágoas, explicar o motivo de determinadas atitudes, quais eram os seus reais interesses por trás de certas posições adotadas e de se ouvir.
Aos poucos a comunicação foi sendo restabelecida, acordos sobre determinadas questões foram sendo feitos e, principalmente, Débora e Guilherme perceberam que ambos desejavam a mesma coisa, a felicidade e o bem-estar de Jonas, e que para isso eles precisariam daqui para frente conseguir se comunicar e alinhar todos os atos da vida de Jonas. E isso ocorreria ainda por muitos anos mais, já que Jonas era ainda um bebê de apenas 2 anos.
E qual foi minha surpresa, quando num dia, Débora veio ao meu escritório pois tínhamos que resolver algumas questões sobre uns imóveis de sua propriedade e ela com um largo sorriso no rosto me disse: “Indico a Mediação para o Mundo!” e começou a me contar como tinha sido todo o seu procedimento de Mediação com Guilherme, através do qual conseguiram resolver todas as questões relativas ao ex-casal e ao Jonas que estavam espalhadas em diversos processos judiciais, os quais foram todos reunidos no mesmo procedimento de Mediação, e de como estavam fluindo bem as combinações acerca da vida do Jonas juntamente com Guilherme.
*Todas as situações narradas e o contexto exposto foram alterados, bem como os nomes são fictícios, visando preservar o anonimato dos envolvidos.