Dois Irmãos à frente da Empresa da Família: parceria ou confusão? - parte 2
Laura chegou confiante à empresa familiar dos irmãos Liz e Thomas. Sabia que os amigos de infância confiavam nela e que no fundo compartilhavam a sensação de que, sem ajuda, nenhuma conversa seria promissora e, sem definirem com franqueza o porvir, a atividade empresarial acabaria por minguar, até se descontinuar. Depois de muito refletir sobre qual seria a abordagem mais habilidosa, Laura decidiu propor conversas individuais. Optou por dedicar a manhã a Liz. Considerou que, como era a irmã mais velha e a primeira a ingressar na empresa da família, faria sentido começar por ela. Sabia que não podia correr o risco de ser mal interpretada. A tarde seria integralmente dedicada a Thomas. Se fosse necessário, explicaria a ele que se valera de um critério isento para estabelecer a cronologia das conversas. Estava segura de que, se fosse suficientemente transparente, não haveria qualquer ruído. Laura começou abraçando a amiga longamente. Queria que soubesse que não estava ali para julgá-la ou convencê-la de coisa alguma. Acolheria sua dor pela perda do pai e buscaria entender o que se passava pelo coração e pela cabeça de Liz. Isso seria tudo. E seria muito. Liz falou, sem respirar, por bastante tempo. Quando ficou em silêncio por alguns instantes, Laura respeitou o momento da amiga e seguiu sem dizer uma palavra. Sabia que Liz precisava ser escutada e Laura estaria ali inteira, na intenção de acolher e compreender. Tinha prometido a D. Norma, mãe de Liz e Thomas, que ajudaria os amigos. Mas sabia que se tentasse convencê-los de algo não seria exitosa. Assim, estava ali sem agenda. Apenas procuraria entender os sentimentos, os valores e as motivações que faziam com que Liz se posicionasse no sentido de voltar à direção da empresa, sem conversar com o irmão sobre como poderia se dar essa reinserção. Liz explicou que sua intenção tinha sido a melhor possível. Enquanto o pai era vivo, estava tranquila com a decisão de se dedicar exclusivamente à família. Na medida em que ele não se fazia mais presente, não via sentido em deixar o irmão sobrecarregado. Além disso, achava que era sua responsabilidade contribuir para o sucesso do empreendimento familiar. Por fim, confidenciou à amiga que, cinco anos antes, ao compartilhar com o pai a intenção de se afastar da direção da empresa, ouviu dele que concordaria se ela lhe prometesse que, quando ele se aposentasse, os irmãos voltariam a estar juntos à frente do negócio. Afinal seus perfis eram absolutamente complementares.
Laura se despediu da amiga com um abraço fraterno. Não contra-argumentou, tampouco trouxe a ideia de mediação. Sabia que era prematuro.
Optou por almoçar sozinha. Precisava de um tempo para clarear as ideias. Queria estar inteira e aberta no encontro com Thomas, para poder escutá-lo da forma mais empática possível.
À tarde, voltou à empresa e encontrou o amigo lhe esperando. Como imaginava, Thomas estava curioso em saber o que Liz havia lhe dito e se ela tinha conseguido convencê-la do absurdo da situação. Laura disse a ele que queria entender como estava sendo estar à frente da empresa sem o pai. Thomas se emocionou e disse a ela que era uma longa estória. Laura não tinha pressa. Foram horas de conversa. Ele contou como havia sido ingressar na empresa que era conduzida pelo pai e pela irmã mais velha. Disse do vínculo afetivo estabelecido entre os dois e de como foi difícil se fazer notar. Aos poucos, o pai foi se dando conta de seu potencial e, com isso, Thomas teve a oportunidade de trazer suas ideias e de desenvolver projetos que mudaram o norte da atividade empresarial. Quando Liz deixou a direção de marketing, foi desafiador porque ele estava envolvido em um empreendimento que lhe demandava muito. Mas em nenhum momento reclamou ou criou qualquer embaraço aos planos da irmã. Acontece que, cinco anos depois, os rumos do negócio haviam mudado e ela ainda mantinha as referências dos tempos idos. Não é que a parceria de Liz fosse um estorvo ou qualquer coisa assim. Mas ela precisaria compreender e reconhecer que o momento era outro e que as conquistas recentes precisavam ser consideradas como ponto de partida para essa nova fase que se anunciava. Laura se despediu do amigo de forma bastante afetuosa, sem dizer nada que pudesse ser percebido como crítica ou conselho. No dia seguinte, Laura ligou para Liz e depois para Thomas. Perguntou a eles como estavam se sentindo. Ouviu dos dois que precisavam estar juntos e conversar francamente. Laura então propôs que esse encontro fosse conduzido por uma dupla de mediadores que tinha sido incrível quando ela precisou. Ambos aquiesceram e agendaram a data da pré mediação. (“A seguir cenas dos próximos capítulos”, ou melhor, no nosso próximo post a mediação entre Liz e Thomas)