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É que eu estava pensando...

Instaurei o hábito da escuta atenta e qualificada para conversar com a Giovanna, minha afilhada mais novinha e desde o ano passado, quando ela tinha menos de quatro aninhos de idade temos tido diálogos interessantes.

Minha ideia é deixar para ela um legado que não tenha prazo de validade e que a torne apta a se comunicar bem vida a fora.

Na minha pretensão, e admitindo a existência de um ganho secundário, eu queria me tornar alguém importante para ela. Tão importante quanto foi minha avó para mim, quando me ensinou que “o amor é a essência da vida”. Queria eu, a exemplo dela, fazer a diferença na vida da pequena Giovanna.

Mas... não precisou muito tempo para eu compreender quem era realmente mestre e quem era aprendiz em nossa relação.

Lembro-me que, certo dia sentadas no sofá da sala, decidimos iniciar a nossa “brincadeira” predileta de conversar usando o bastão de fala, que permitia falarmos e ouvirmos sem sermos interrompidas. Não raras vezes usávamos um bichinho de pelúcia, mas naquele dia optamos por uma bolinha em formato e cores do planeta terra. Esta era muito cara para mim, pois eu a havia ganho em um evento ocorrido em Cleveland onde aprendi melhor sobre a facilitação dos Círculos de Diálogos...

A Giovanna também gostava muito dessa bolinha de borracha azul no formato do planeta terra. Ao fim e a cabo, era apenas uma daquelas bolinhas semelhantes às usadas para exercícios visando a distensão de músculos das mãos.

Iniciamos a brincadeira com a preocupação de escutarmo-nos até o final de cada fala. E assim dialogamos. É incrível, não é? Estávamos em um contra movimento aos hábitos de atropelar as falas e de oferecer palavras para encurtar o caminho entre a escuta do outro e a nossa fala.

Tudo ia muito bem. Eu falava e passava a bolinha para ela. Ela falava e passava para mim e assim garantíamos uma boa conversa e a criação hábitos futuros de um bom diálogo, acreditava eu...

Em um dado momento ela parou e ficou olhando para a parede a sua frente. Passaram-se poucos minutos e eu, talvez distraída, resolvi falar. Horrorizada ela me olhou e disse com firmeza: - Dinda, você não está com a bolinha!

Parecia até ofendida e eu, confesso que senti uma vergonha imensa diante daquela criaturinha. Imaginava que ela podia estar se sentindo desrespeitada. Afinal, havíamos firmado as regras juntas. Quase que institivamente tentei me justificar, dizendo que ela tinha parado de falar e que eu... então imaginei...

Mas mesmo percebendo o meu desconserto ela, implacável, disse: - É que eu estava pensando...

Sem mais uma palavra, aturdida e consciente da arrogância que conquistei a partir do lugar de adulta e de especialista em comunicação, me dei conta de quem eu era, de fato, naquela relação...

Uma criança mediou a minha aprendizagem, atuando para que eu e o meu conhecimento se agregassem.

De lá para cá, entro nas sessões de mediação e me conecto com a alegria, sinceridade e espontaneidade das crianças.

Tenho me permito viajar em busca do melhor de mim a partir desse lugar, onde há inocência e vigilância. Lugar do qual eu havia esquecido há muito tempo...

Sou muito agradecida a Giovanna, minha querida afilhada!

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