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Violência e Mediação de Conflitos nas Escolas



Querid@s leitores! Vocês já devem ter reparado que de algumas semanas para cá, por consenso das nove blogueiras do MEDIANDO POR AÍ, resolvemos, quando possível e oportuno, agregar parcerias em nossos posts trazendo um(a) convidado(a) para nos contar alguma coisa junto com a gente sobre os temas que nos conduziram e seduziram para a criação deste Blog.


Hoje trouxe comigo Angela F. da Silva Moreira, amiga de muitos anos. Nos reencontramos há mais ou menos um ano, mesmo tempo de existência deste Blog que completou um ano em 28 de março!


Angela é psicóloga de formação, Consultora de Desenvolvimento Organizacional e Humano, Coach de liderança, Grafóloga, Terapeuta Comunitária e na área clínica, Psicoterapeuta, de apoio em momentos de transição, como luto, separações, divórcio, ”ninho vazio”...


Entusiasmada pelo tema da mediação e facilitação de diálogos, tem acompanhado as publicações e oferecido seus comentários ao final das postagens ou por WhatsApp. Com um raciocínio veloz e muitas indagações e reflexões, costuma pontuar o que considerou mais interessante e importante demonstrando satisfação em “aprender” sobre o que não conhecia, assim como questionar e propor outros temas atuais de seu interesse.


Essa arrebatadora vontade de pulsar as ideias que os textos lhe produziam, em ligação direta com o que está ocorrendo no mundo e no Brasil, vinha lhe provocando indagações acerca do alcance da mediação relativa a outras questões atuais que envolvem, por exemplo, demandas específicas de gênero, a situação dramática dos imigrantes sírios - ajuda humanitária x xenofobia –, violência nas escolas (a insegurança externa espelhada no ambiente escolar), a produção de fake news confundindo a comunicação e alimentando a linguagem do conflito e não do diálogo, dentre outras...


Foram tantas ideias e sentimentos que brotaram nessas conversas, que o melhor caminho que encontramos para dar vazão a eles, além de nosso compartilhar mais restrito, foi o de ampliar trazendo-os para o MEDIANDO POR AÍ.


A gota d´água para Angela escolher o tema da violência nas escolas foi uma conversa recente que teve com uma professora de ensino fundamental o que a impeliu a buscar leituras sobre o tema, destacando, então, numa síntese, o que lhe chamou mais a atenção até o momento. Vamos ver o que ela nos traz!



Violência e Mediação de conflitos nas escolas


Conversando com uma professora da rede pública de ensino, ouvi um relato de sua experiência como docente, de profunda desmotivação, falta de esperança e estresse na sua prática diária. Falava, por exemplo, da profunda indiferença e desrespeito por parte de seus alunos diante de sua presença, ao ponto de virarem de costas para ela na sala de aula e ficarem no celular, dando gargalhadas e fazendo deboche diante do seu esforço em vão de desempenhar o seu papel. Por outro lado, aqueles alunos que se mostravam interessados, ficavam privados do acesso ao conhecimento por conta do clima de violência no ambiente da escola (brigas, ameaças) e fora dela, nos locais onde moram. O que fazer para mudar esta realidade?


Buscando respostas para esta indagação, procurei algumas fontes para este entendimento e achei interessante o ensaio intitulado "Gestão do conflito escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação" de autoria do professor de mestrado do CEFET/RJ, Álvaro Chrispino*. Neste ensaio, aborda a percepção corrente que se tem de que o conflito é algo por si só danoso e, como tal, deva ser abafado, sem que se dê conta que ao adotar esta postura, ali está a combustão para a expressão violenta do conflito, que aí sim, de forma ruidosa, todo mundo vê. Ou seja: uma das causas da violência nas escolas seria desconhecermos ou não aprendermos a identificar as divergências - estas como resultado das diferenças habituais de ideias, de interesses, de experiências, gostos e valores de cada um - e atuar sobre elas, criando as condições para que seja estabelecido o diálogo, a troca, o aprendizado conjunto. Por outro lado, quando a violência aparece, espera-se resolvê-la de um modo muito "objetivo": reprimindo simplesmente a sua expressão. É do senso comum perceber o conflito como algo que afronta a ordem, um desvio, quando para o autor, a ordem representaria a tentativa de estabelecer normas para o conflito e não simplesmente suprimi-lo “por decreto”. Assim entendi o que o autor quis dizer...


O outro ponto levantado como gerador de conflito, refere-se ao não reconhecimento dos diferentes perfis de alunos em função de culturas diversas, local de moradia, condição econômica, contexto familiar... adotando-se como referência para ações educativas, digamos, o “aluno padrão”, aquele esperado. A partir desta percepção, as regras são apresentadas e cobradas para serem seguidas, desconsiderando singularidades.


O autor apresenta, então, algumas vantagens do conflito (que é inevitável, ao longo da vida) caso seja transformado em algo positivo, para o aprendizado da convivência, facilitando inclusive a criação e uso de tecnologias sociais nesta direção, ressaltando: (i) ajuda a tornar mais clara a identidade dos envolvidos; (ii) permite reconhecer as diferenças não como ameaça (o outro como inimigo), mas como resultado de um contexto por vezes adverso; (iii) ajuda a regular os relacionamentos; (iv) ensina que a controvérsia pode ser um estímulo, uma oportunidade para o desenvolvimento social e humano. Buscar o que une e menos o que separa. Finaliza a descrição das vantagens dizendo que (v) não é possível esperar disciplina, se não forem desenvolvidas habilidades para tal, sem que os alunos percebam a relevância disso, por exemplo, para a qualidade do aprendizado, da relação com as pessoas e para o trabalho que venham a desenvolver.


No tocante propriamente à Mediação de Conflitos, o autor destaca os benefícios do seu uso no ambiente escolar: estimular a expressão do pensamento, o olhar crítico, discutir e buscar soluções conjuntas (cada um percebendo-se como parte da solução), desenvolver o autoconhecimento (limites e potencialidades), exercitar a tolerância, a empatia, a cooperação ao invés da competição por quem tem razão ou “pode mais” (“fermento” para o conflito).


Por fim, considerando que cada escola de modo a cumprir sua finalidade precisa ser reconhecida na sua complexidade - atravessada por diferentes condições, valores e relações - se faz necessário um levantamento criterioso de vários fatores que geram impactos na instituição, de modo a criar um programa de mediação específico que atenda às necessidades e contexto particular de cada escola.


Acredito que através da prática da mediação nas escolas, todos aprendem algo que vai muito além do conteúdo programático, aprendem a se comunicar melhor, a expressar sentimentos e ideias sem acusações e atitude de confronto, mas de conciliação, de escuta e fala respeitosa, a buscar soluções juntos, responsabilizando-se cada um, pela sua parte. Todos ganham com isso e a sociedade como um todo, agradece!

Angela Moreira




E a professora? O que fazer enquanto a escola (só a escola?) não descobre caminhos e se apropria dos recursos que podem contribuir para lidar com os conflitos?


Na situação trazida, é possível imaginar que o ‘diagnóstico’ citado por Chrispino abarcaria os sentimentos, as necessidades e interesses não apenas dessa professora, mas de outros atores sociais envolvidos nesse contexto. A mediação, de fato, tem sido considerada um importante recurso a se buscar para trabalhar os conflitos dentro e fora da escola, observando, ainda, que outros recursos de facilitação de diálogos podem ser incorporados e contribuem fortemente para novas conexões a serem vivenciadas pela comunidade escolar, entre eles os Processos Circulares, as Práticas Restaurativas e a Comunicação Não Violenta.



Que conexões você faz ao “escutar” a história dessa professora?




* http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v15n54/a02v1554.pdf


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