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O esquecimento provocado pelo conflito


Essa semana, em uma mediação com um casal que se separou em abril deste ano, após 15 anos juntos e uma filha de 8 anos, a ex-esposa falava que ele não ligava para a menina, que ele estava sem vê-la há 1 mês, que recentemente ficou de busca-la e não apareceu, entre muitas outras queixas. O pai tentou explicar todas as mudanças em sua vida nos últimos tempos desde a separação, e os seus problemas no trabalho atual. Estavam ambos na mediação por quererem conviver com a filha e negociar o formato de convivência.

Quando perguntamos como eram enquanto marido e mulher e como pais, durante o tempo de casados, a ex-esposa relaxou e falou que eram companheiros, amigos e super pais, sempre saiam os 3 e a colaboração era a tônica da relação.

Pedimos que pudessem refletir sobre esse período desde a separação como uma fase difícil e que requer reorganizações e adaptações, e que conectados com a história deles de companheirismo e amizade, como poderiam pensar uma convivência futura de ambos com a filha.

As histórias que as pessoas trazem para a mediação são sobre problemas, e nós mediadores queremos ampliar as histórias narradas, trazendo para a conversa o ponto de vista relacional. O foco está na relação que tinham e que criaram e na possibilidade de co-construírem novas histórias e significados.

Nos divórcios litigiosos as famílias vão para casa para cumprirem a sentença judicial, mas o conflito permanece, acompanhado de todo o seu sofrimento e esquecimento trazido pelo conflito.

A mediação que tem por objetivo um real acolhimento e disponibilidade dos mediadores para escutarem e descobrirem histórias alternativas conjuntamente com os mediandos, pode resultar em uma real transformação e resolução do conflito. O ex-casal conjugal traz histórias positivas sobre sua relação pregressa e também, na maioria das vezes, sobre suas habilidades e potencialidades enquanto pais. Para além da história do conflito, o mediador vai facilitar a criação das histórias sobre as exceções e valores compartilhados, sem conflito.

Os conflitos fazem os casais se esquecerem do que já tiveram de positivo. Quantas vezes já não escutamos frases do tipo: “Estou casado(a) com um estranho(a), depois de 15 anos de casamento e descubro que ele(a) é um mentiroso(a)”!; ou a frase da nossa medianda: “Ele não quer saber da filha, está mais preocupado em curtir a vida”, entre outras.

Quando podemos deixar de lado a história do conflito para resgatar as histórias dos valores e da ética que essas relações já tiveram, muitos dos nossos mediandos conseguem redescobrir como faziam. Podem refletir como sua história pode ter uma moldura mais positiva e novas possibilidades de resolução colaborativas para os problemas podem ser geradas.

No nosso caso o ex-casal – pais de uma filha de 8 anos – resgataram os valores de companheirismo, apoio, respeito e família, que estavam “esquecidos”, para construírem um formato de convivência e manutenção financeira pautado nesses valores da relação.

Tags: novas histórias, significados, acolhimento, histórias alternativas, valores compartilhados e ética.

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