Um pedido: me inclua na sua conversa!
É possível que cada um de nós já tenha tido, ou tenha, aquele tio(a), primo(a), um amigo(a), enfim, pessoas com quem, por alguma razão, nos identificamos e admiramos, especialmente em determinadas épocas de nossas vidas. Eu tive, portanto, as minhas!
Lembro-me de uma ocasião, era jovem, estudante de psicologia. Saí para almoçar a convite de meus tios, Lourenço e Emma, dos quais gostava muito! Durante o almoço, meu tio querido me deu a oportunidade de falar e trocar muitas ideias com ele. O assunto, não me lembro mais! Recordo, no entanto, do clima de empolgação em que me encontrava, fascinada pela atenção que recebia dele e pelas provocações de ideias que me instigavam a falar, falar, falar... com ele (minha tia sorria de vez em quando, silenciosa, escutando).
O almoço estava uma delícia mas chegou a hora de irmos embora. Na despedida, dirigi-me à tia Emma e me ocorreu de perguntar-lhe: e aí tia, foi legal, né? Simplesmente ouvi: “foi sim, ‘minha filha’, mas ia gostar mais se eu estivesse incluída na conversa”. Não sei por quantos segundos, mas a sensação era de que tudo tinha ficado silencioso ao meu redor (certamente um silêncio mais interno do que externo) e, como numa cena de teatro, parecia que um foco intenso de luz de um refletor estivesse em cima de mim. Não sei exatamente qual foi a minha expressão naquele momento, mas acredito que as cores do Arco-íris, do vermelho ao ‘roxo’ (violeta), tenham desfilado pela minha face naquele momento. Nos dias de hoje, os emoticons dos whatsApps e facebooks da vida traduziriam de forma instantânea o que senti.
Sozinha, depois que meus tios me deixaram, muitas coisas se passaram pela minha mente e, também, por todo o corpo, já que as sensações e emoções ‘gostam’ de ser ‘transversais’, não? Perguntava-me: como eu, uma estudante de psicologia, tinha dado uma mancada como aquela!!! Acho que ‘pagar mico’ ainda não estava na moda! Tudo corria tão bem! A convivência, o almoço, o assunto, a conversa, mas...só tinha esquecido de incluir minha tia! E, como se não bastasse, ainda lhe fiz uma pergunta (“e aí tia, foi legal, né?”), que já antecipava a resposta que eu esperava dela!!!! Arre! De tão ensolarada que estava, nem percebi que a ofuscava, ali, do meu lado!
Posso dizer que esse acontecimento me fez refletir o que de fato consegui aproveitar dessa convivência: sim, claro, um almoço gostoso, mas... passageiro; uma conversa interessante com o meu tio, também... passageira e a fala de minha tia sobre a sua não inclusão na conversa. Ah! Essa sim foi duradoura! Hoje, carrego comigo esse e outros acontecimentos como um aprendizado que os diferentes momentos da vida nos proporcionam. É a minha ‘caixa detox de ferramentas relacionais’ (rsrsrs).
Imagino, então, o que poderia ter feito diferente naquele encontro com os tios! Com certeza escutaria e daria vez, de minha parte, a todos que estavam ali participando e tentaria me colocar aberta para receber as ideias que viriam parecidas ou não com as minhas e, quem sabe, me surpreendesse com as novas ideias que surgissem e me instigassem, a partir das expressões dos demais. Como incluiria? Olhando com atenção para cada um, a sua vez, fazendo perguntas para compreender, respondendo ao que escutei para ver se entendi e compartilhando momentos de fala.
A descoberta da ‘Mediação de Conflitos’ no meu percurso profissional incluiu, entre muitos outros temas, o estudo da comunicação, da facilitação de diálogos e as possibilidades de torná-los produtivos, o que têm contribuído decisivamente para (re) pensar a minha forma de interação com as pessoas. O interessante de tudo isso é que para usufruirmos dessas ideias e possibilidades, necessariamente, não é preciso ser um Mediador. Esse aprendizado perpassa nossas trajetórias de vida, como exemplificado acima, num trivial acontecimento do dia a dia; mas pode ser desenvolvido nas diferentes instituições como um projeto de educação e formação e, a escola, por excelência, é um campo fértil a ser percebido para o desenvolvimento dessas habilidades e para revelações de modos produtivos de dialogar e se relacionar.
Aos olhos e sentidos de alguns, isto pode parecer um ‘pote de bobagens’, mas posso ousar dizer que as salas com suas reuniões de mediação estão cheias dessas e de outras ‘bobagens’ que, por incrível que pareça, interferem muito e ‘paralisam’ as vidas das pessoas. Se sentir genuinamente escutado (a) e genuinamente escutar o outro, faz muita diferença em nossas vidas!
Façam, então, um BOM PROVEITO!
Se sentirem vontade de compartilhar suas estórias nesse tema, enviem-nas pela correspondência do Blog para mim na área de contato. Gostaria muito de conhecê-las!