Conectar-se é preciso
Eu estava num parquinho com minha filha, que na época tinha por volta de um ano e meio. Ela estava no pula-pula – como gosta de pular a minha pequena! De repente chegou correndo uma criança um pouco mais velha – 3 anos talvez - e se enfiou no pula-pula rapidamente. Logo atrás vinha a mãe, esbaforida, gritando. “Gabriela, tá na hora de ir pra casa, sai já daí!” Gabriela pulava. “Gabriela, SAI AGORA. SAI. AGORA.” As meninas pulando e a tensão crescendo. O brinquedo era cercado por uma rede de proteção, então a mãe não conseguia se aproximar da filha. “SE VOCÊ NÃO SAIR AGORA VOU TE DAR UM BELISCÃO”. Gabriela começa a chorar e cola na rede, o mais longe possível da mãe. Minha filha para de pular e observa a cena. Olha para a menina, para mãe, para mim. “VOCÊ QUER LEVAR UM BELISCÃO? QUER???” Gabriela, que berrava a plenos pulmões, agora está toda encolhida numa esquina do brinquedo.
Fiquei muito desconfortável. Queria de alguma forma intervir, porque ninguém estava feliz com aquela situação. Mas não queria ser invasiva e muito menos dar a entender que estava julgando aquela mãe – só ela sabe os desafios que vive diariamente na sua maternagem...
No final das contas, minha filha saiu do pula-pula e não vi o final da negociação. Fui para casa digerindo a cena.
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Na sequência de “O Poder do Não Positivo” (clique aqui para ler o post), outro livro me impactou profundamente. Em “Comunicação Não Violenta”, Marshall Rosenberg nos ensina a comunicar-nos de modo a criar uma conexão verdadeira com o outro.
Para uma comunicação empática, devemos conectar-nos com nossos sentimentos e necessidades. Devemos identificá-los e comunicá-los ao outro. Saúde, afeto, respeito, tranquilidade, justiça, reconhecimento... Se perguntarmos a qualquer pessoa quais são suas maiores necessidades, as respostas são bastante semelhantes. Quando conseguimos comunicar-nos no nível das necessidades, criamos conexão com nosso interlocutor. A conexão interna gera conexão com o outro.
Além de expressar-nos de maneira não-violenta, podemos também escutar desta forma. Falas tidas como violentas são pedidos de ajuda. Por trás de uma manifestação “violenta” há uma necessidade desatendida. As falas e atos crescem em gravidade quanto mais as pessoas se sentem desatendidas em suas necessidades.
Para intervir de forma positiva nos conflitos, precisamos auxiliar as pessoas a se conectarem com suas necessidades e sentimentos – e assim permitir que se conectem com o outro.
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Qual seria a necessidade desatendida da mãe da Gabriela? Sua fala era um pedido de ajuda. Precisava garantir sua autoridade sobre a filha? Precisava ser vista como uma mãe competente? Precisava de um pouco de descanso? Precisava simplesmente sair logo do parquinho para ir a outro compromisso?
Quantas exigências internas e externas a maternidade nos traz.
Por outro lado, eu também tinha necessidades desatendidas.
Queria que minha filha entendesse o que estava acontecendo. Queria que Gabriela se sentisse bem. Queria que sua mãe ficasse tranquila. Queria intervir de forma positiva naquela situação – afinal, eu sei lidar com conflitos.
Queria ter conseguido me conectar com a mãe da Gabriela naquele momento.
Queria simplesmente ter dito pra ela: “às vezes é difícil, né?”